quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Saudades de Maiakovski

Gostaria que Vladimir Maiakovski tivesse chegado pelo menos aos 50 anos. Que tivesse atravessado os 50 em vez de se fazer atravessar por uma bala aos 36. O poeta operário foi devorado pela revolução russa de Stalin. Uma tristeza e um paradoxo. Ele próprio condenava o suicídio em seus escritos: “A pessoa que deixa voluntariamente a vida leva consigo o mistério de sua decisão. Nenhuma explicação penetra na essência real da atitude tomada. Elas somente entreabrem a cortina sobre o segredo, mas o próprio segredo permanece escondido atrás do final triste da vida”.

Assim como gostaria de percorrer a web e encontrar textos de protesto sobre a atual sem-vergonhice política brasileira, gostaria de ler um poema que Maiakovski tivesse escrito aos 50, depois de ter testemunhado por inteiro o regime sanguinário de Stalin. Hoje ninguém mais escreve o testemunho de nada, muito menos em forma de poema.

O poeta da revolução poderia também ter vivido para envenenar o cretino do Stalin, que viveu até os 73 anos e teve tempo para promover o genocídio de pelo menos 20 milhões. Maiakovski desperdiçou um tempo precioso que poderia ter sido vivido para combater, até o dia em que conseguissem pegá-lo, assim como a Trotsky e a muitos outros. E se não o pegassem, faria, em forma de versos, estragos capazes de fazer Stalin morder o próprio calcanhar. 

Gostaria de conhecer o pensamento de Maiakovski aos 50. Pois se hoje é considerado um dos maiores poetas do século 20 e ainda influencia poetas do mundo inteiro, imagine se tivesse vivido pelo menos mais duas décadas. Mas... seria possível Maiakovski se superar? O segredo permanece escondido atrás do final triste de sua vida. Matou-se, talvez, por impotência diante da realidade dos seus dias, e nós, que estamos aqui olhando a vida pelo retrovisor alheio e reclamando do que os outros deixam de escrever, temos direito a pensar o que? De minha parte, ouso  passar a limpo o que disse de início: penso que, por tudo o que disse e fez enquanto poeta, Maiakovski já nasceu com 50

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