segunda-feira, 18 de março de 2019

Às suicidas, com amor!


Um gato do avesso no canto do sofá testemunha, com um olho só, o curioso voo de Ana Cristina Cesar do oitavo andar.

Do lado de fora de uma janela de vidros, um gato, impávido, testemunha o último suspiro de Sylvia Plath diante da válvula de gás.

Um gato que ressonava sob uma árvore no campo ouviu o revolver das águas que engoliram o corpo esquálido e vestido de pedras de Virginia Woolf.

O frasco de barbitúricos que adormeceram para sempre Florbela Espanca despencou do criado mudo, despertando o gato do longo sono da tarde.

Da varanda da antiga casa de praia, o gato sonolento foi o único que viu Alfonsina Storni caminhando para as altas águas do mar para nunca mais voltar.

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