Um gato do avesso no canto do sofá testemunha, com um olho
só, o curioso voo de Ana Cristina Cesar do oitavo andar.
Do lado de fora de uma janela de vidros, um gato, impávido,
testemunha o último suspiro de Sylvia Plath diante da válvula de gás.
Um gato que ressonava sob uma árvore no campo ouviu o
revolver das águas que engoliram o corpo esquálido e vestido de pedras de
Virginia Woolf.
O frasco de barbitúricos que adormeceram para sempre
Florbela Espanca despencou do criado mudo, despertando o gato do longo sono da
tarde.
Da varanda da antiga casa de praia, o gato sonolento foi o
único que viu Alfonsina Storni caminhando para as altas águas do mar para nunca
mais voltar.
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